Feijão é o nome comum das sementes de uma grande variedade
de plantas (cerca de 150) de alguns gêneros da família Fabáceas ou Leguminosas
(dependendo do tipo de classificação usada).
Para tratar da história do feijão deveremos dividir o
assunto entre os dois principais gêneros de feijão, o Dolichos (ou Vigna), de
origem africana, mas com espécies existentes também em regiões tropicais da Ásia,
e o Phaseolus, de origem americana.
As plantas que produzem os feijões foram entre as primeiras
a serem domesticadas e seu uso como alimento de base iniciou mais de 20.000 anos atrás
em algumas culturas orientais.
Feijões do gênero Dolichos ou Vigna, chamados de “feijão do
olho” ou “feijão do Egito”, de origem subsaariana, eram difusos entre os povos
mediterrâneos da antiguidade até o oriente médio.
No Egito, o feijões eram associados ao culto dos defuntos, sendo o
alimento dos sacerdotes durante os ritos em homenagem a Ísis.
Na Grécia clássica, o feijão era oferecido como lanche em
simpósios e é mencionado a Ilíada de Homero (VI século AC) e também no
antigo testamento da Bíblia. Existem indícios de seu uso por parte do povo
Etrusco, antes do surgimento da civilização romana.
Na Roma antiga os feijões eram utilizados como moedas em
jogos de apostas. Inicialmente considerados um alimento popular e pouco
refinado (Virgilio, nas “Geórgicas”, os define como “viles”), foram ganhando
espaço entre a nobreza ao ponto que, em época imperial (I século DC), Celio Apicio
os inclui em suas receitas, como entradas.
A facilidade de cultivo e as notáveis propriedades
nutritivas fizeram os feijões virarem um alimento fundamental dos mosteiros da
Europa a partir da alta idade média, inclusive por serem considerados um alimento
simples e penitencial, em contraposição as pecaminosas carnes.
Muito apreciados, também, pela população campesina, foram
quase ignorados pelos tratados gastronômicos da idade média e da época gótica.
Na Índia e em outras regiões da Ásia existiam outros tipos de
feijões do gênero Vigna, como o Feijão Indiano Preto e o Feijão Indiano Verde. Os Budistas, na busca de uma dieta ideal, onde não contavam
com carnes, encontraram no feijão um grande aliado para manter sua alimentação
saudável.
Descobertas arqueológicas que datam aproximadamente de 10.000 AC , sugerem que o
feijão era cultivado na América do Sul, mais precisamente no Peru, em um local
conhecido como sítio arqueológico Caverna Guitarrero, e posteriormente levados
para regiões da Mesoamérica (México), onde vestígios encontrados indicam que o
feijão fora domesticado desde 7.000
AC . Pesquisas arqueológicas em sepulturas dos Incas
também comprovaram sua importância, juntamente com o milho, como base de
alimentação deste povo.
Algumas tribos indígenas da América do Norte consideravam o
feijão como um dos três “irmãos” que eram responsáveis pela base de sua
alimentação: feijão, milho e abóbora.
Dados mais recentes, com base em padrões eletroforéticos de
faseolina, sugerem a existência de três centros primários de diversidade
genética, tanto para espécies silvestres como cultivadas: o mesoamericano, que
se estende desde o sudeste dos Estados Unidos até o Panamá, tendo como zonas
principais o México e a Guatemala; o sul dos Andes, que abrange desde o norte
do Peru até as províncias do noroeste da Argentina; e o norte dos Andes, que
abrange desde a Colômbia e Venezuela até o norte do Peru.
O Feijão americano, do gênero Phaseolus, chegou à Espanha
nos primeiros anos de 1500, inicialmente como curiosidade botânica, ganhou
rapidamente status de alimento importante graças ao apoio, entre outros, do
Imperador Carlos V (rei da Espanha como Carlos I) e do Papa Clemente VII, substituindo
de fato o uso dos feijões do gênero Vigna.
Na Itália se tem as primeiras notícias de cultivo do feijão
Americano em 1528-29, na França em 1533-35 e na Alemanha meridional em 1539.
Em 1544, na Europa, eram cultivadas uma dezena de espécies
diferentes de feijões de origem americana, entre os quais os “brancos da
Espanha”, os rajados e os “canellini” (também brancos) sobre os quais o médico
Pierandrea Mattioli e o naturalista Lodovico Castelvetro, ambos italianos,
escreveram fartamente. Este último descreve o uso dos feijões em sopas com
massa ou em associação a outros legumes e cereais, em saladas ou ainda
transformados em farinha e usados em diversos tipos de tortas e bolos.
Logo depois da introdução do feijão americano na Europa, os
navegadores espanhóis e portugueses levaram esta planta para suas colônias na
África e na Ásia (a partir das Filipinas, de onde se espalhou para todo o continente), e também para partes da América (Brasil e regiões da América do Norte)
onde ainda não era conhecido.
Apesar de sua importância e grande difusão entre a população
em geral, até os tempos modernos os feijões não gozaram de muita simpatia por
parte das classes altas e da nobreza da Europa, sendo virtualmente ignorados
pela alta cozinha.
Importante saber que o feijão contém toxinas. Consumir uma meia dúzia de
feijões crus já pode desencadear sintomas quais náusea, vômito e diarréia, mas
também hemorragias gástricas. A toxina chama-se fitohemaglutinina, uma lectina,
e tem efeito hemoaglutinador.
A toxina é termosensível e pode ser desativada cozinhando o
feijão a 100° C por quinze minutos. Alguns especialistas recomendam também uma
primeira imersão de algumas horas. A água de maceração deve ser descartada.
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