quinta-feira, 17 de março de 2016

FEIJÃO

Feijão é o nome comum das sementes de uma grande variedade de plantas (cerca de 150) de alguns gêneros da família Fabáceas ou Leguminosas (dependendo do tipo de classificação usada).
Para tratar da história do feijão deveremos dividir o assunto entre os dois principais gêneros de feijão, o Dolichos (ou Vigna), de origem africana, mas com espécies existentes também em regiões tropicais da Ásia, e o Phaseolus, de origem americana.

As plantas que produzem os feijões foram entre as primeiras a serem domesticadas e seu uso como alimento de base iniciou mais de 20.000 anos atrás em algumas culturas orientais.

Feijões do gênero Dolichos ou Vigna, chamados de “feijão do olho” ou “feijão do Egito”, de origem subsaariana, eram difusos entre os povos mediterrâneos da antiguidade até o oriente médio.

No Egito, o feijões eram associados ao culto dos defuntos, sendo o alimento dos sacerdotes durante os ritos em homenagem a Ísis.
Na Grécia clássica, o feijão era oferecido como lanche em simpósios e é mencionado a Ilíada de Homero (VI século AC) e também no antigo testamento da Bíblia. Existem indícios de seu uso por parte do povo Etrusco, antes do surgimento da civilização romana.

Na Roma antiga os feijões eram utilizados como moedas em jogos de apostas. Inicialmente considerados um alimento popular e pouco refinado (Virgilio, nas “Geórgicas”, os define como “viles”), foram ganhando espaço entre a nobreza ao ponto que, em época imperial (I século DC), Celio Apicio os inclui em suas receitas, como entradas.

A facilidade de cultivo e as notáveis propriedades nutritivas fizeram os feijões virarem um alimento fundamental dos mosteiros da Europa a partir da alta idade média, inclusive por serem considerados um alimento simples e penitencial, em contraposição as pecaminosas carnes.
Muito apreciados, também, pela população campesina, foram quase ignorados pelos tratados gastronômicos da idade média e da época gótica.

Na Índia e em outras regiões da Ásia existiam outros tipos de feijões do gênero Vigna, como o Feijão Indiano Preto e o Feijão Indiano Verde. Os Budistas, na busca de uma dieta ideal, onde não contavam com carnes, encontraram no feijão um grande aliado para manter sua alimentação saudável.


Enquanto isso os feijões do gênero Phaseolus se desenvolviam nas Américas.

Descobertas arqueológicas que datam aproximadamente de 10.000 AC, sugerem que o feijão era cultivado na América do Sul, mais precisamente no Peru, em um local conhecido como sítio arqueológico Caverna Guitarrero, e posteriormente levados para regiões da Mesoamérica (México), onde vestígios encontrados indicam que o feijão fora domesticado desde 7.000 AC. Pesquisas arqueológicas em sepulturas dos Incas também comprovaram sua importância, juntamente com o milho, como base de alimentação deste povo.

Algumas tribos indígenas da América do Norte consideravam o feijão como um dos três “irmãos” que eram responsáveis pela base de sua alimentação: feijão, milho e abóbora.

Dados mais recentes, com base em padrões eletroforéticos de faseolina, sugerem a existência de três centros primários de diversidade genética, tanto para espécies silvestres como cultivadas: o mesoamericano, que se estende desde o sudeste dos Estados Unidos até o Panamá, tendo como zonas principais o México e a Guatemala; o sul dos Andes, que abrange desde o norte do Peru até as províncias do noroeste da Argentina; e o norte dos Andes, que abrange desde a Colômbia e Venezuela até o norte do Peru.

O Feijão americano, do gênero Phaseolus, chegou à Espanha nos primeiros anos de 1500, inicialmente como curiosidade botânica, ganhou rapidamente status de alimento importante graças ao apoio, entre outros, do Imperador Carlos V (rei da Espanha como Carlos I) e do Papa Clemente VII, substituindo de fato o uso dos feijões do gênero Vigna.
Na Itália se tem as primeiras notícias de cultivo do feijão Americano em 1528-29, na França em 1533-35 e na Alemanha meridional em 1539.
Em 1544, na Europa, eram cultivadas uma dezena de espécies diferentes de feijões de origem americana, entre os quais os “brancos da Espanha”, os rajados e os “canellini” (também brancos) sobre os quais o médico Pierandrea Mattioli e o naturalista Lodovico Castelvetro, ambos italianos, escreveram fartamente. Este último descreve o uso dos feijões em sopas com massa ou em associação a outros legumes e cereais, em saladas ou ainda transformados em farinha e usados em diversos tipos de tortas e bolos.

Logo depois da introdução do feijão americano na Europa, os navegadores espanhóis e portugueses levaram esta planta para suas colônias na África e na Ásia (a partir das Filipinas, de onde se espalhou para todo o continente), e também para partes da América (Brasil e regiões da América do Norte) onde ainda não era conhecido.

Apesar de sua importância e grande difusão entre a população em geral, até os tempos modernos os feijões não gozaram de muita simpatia por parte das classes altas e da nobreza da Europa, sendo virtualmente ignorados pela alta cozinha.

Importante saber que o feijão contém toxinas. Consumir uma meia dúzia de feijões crus já pode desencadear sintomas quais náusea, vômito e diarréia, mas também hemorragias gástricas. A toxina chama-se fitohemaglutinina, uma lectina, e tem efeito hemoaglutinador.
A toxina é termosensível e pode ser desativada cozinhando o feijão a 100° C por quinze minutos. Alguns especialistas recomendam também uma primeira imersão de algumas horas. A água de maceração deve ser descartada.

No mundo são cultivados aproximadamente 25 milhões de hectares de feijoeiras, com uma produção total de 18 milhões de toneladas de feijões secos. Entre as maiores produções de leguminosas para grão, o feijão está no segundo lugar após a soja.

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