Poucos alimentos têm uma história importante como a batata.
Trata-se de um túbero da família das Solanáceas, originário dos Andes peruanos
e bolivianos onde é cultivada há mais de 8.000 anos. Pesquisas indicam que, neste período, comunidades de caçadores e coletores, na região do Lago Titicaca (3.800 m acima do nível do
mar), começaram a domesticar plantas de batata selvagem originárias da região.
A segurança alimentar fornecida pela batata (juntamente com
o milho), cultivada em altitudes acima de 3.000 m através do desenvolvimento
da irrigação e terraceamento, permitiu o surgimento da civilização Huari no
altiplano de Ayacucho, em 500 DC.
Depois de 1200 DC a civilização Huari foi rapidamente substituída pelos
Incas que, em menos de cem anos, criaram o maior império das Américas
pré-colombianas.
Os Incas aperfeiçoaram as técnicas de cultivo tanto do milho
quanto da batata, que continuava sendo um dos pilares de sua segurança
alimentar. Existiam armazéns imperiais de batatas e era especialmente difuso um
produto de batata "liofilizada" chamado chuño, utilizado para alimentar
funcionários, soldados e operários e, como um estoque de emergência, após a
perda de colheitas.
A batata foi introduzida na Europa pelos espanhóis, que a
tinham conhecido durante a conquista do Império Inca, na primeira metade de
1500.
Durante um bom período a batata foi considerada somente uma
curiosidade botânica, mais tarde iniciou a se difundir na Itália, Alemanha,
Inglaterra e, com mais dificuldades, na França logo antes da revolução
francesa. Alguns governantes, sobretudo na Alemanha, impuseram medidas para a
difusão da batata na Europa. Na Irlanda foi fator de sobrevivência da população
local durante as muitas lutas contra a Inglaterra. Virou a comida principal de
várias populações camponesas do norte da Europa e uma das principais causas da
emigração para a América, pois uma doença que afetava este túbero foi fator
determinante na carestia que ocorreu em meados do século XIX, obrigando
milhares de camponeses irlandeses, alemães, ingleses e holandeses a procurarem melhores condições de sobrevivência no Novo Mundo.
A difusão da batata em outros continentes ocorreu através da
colonização e das migrações de europeus, inclusive no Brasil.
Hoje, a batata é cultivada em quase 20 milhões de hectares
em todo o mundo. A China é o maior produtor de batatas, e quase um terço de todas
as batatas vêm da China e Índia juntas.
A Ásia consome quase metade da oferta mundial de batatas, mas, em função de sua enorme população, isso significa que o consumo é de pouco mais de 25 kg por pessoa . Os Europeus e Norte
Americanos são os maiores consumidores de batatas. Na África e America Latina o
consumo é menor que na Europa, mas em crescimento. Atualmente a batata é o 4º
alimento mais consumido no mundo, após arroz, trigo e milho.
Importante observar que as batatas contém uma toxina
denominada solanina. Se trata de um esteróide, glicoalcalóide, que se encontra também em
outras plantas (como a berinjela). Os níveis de solanina se elevam em batatas
expostas à luz e pode ser detectado pela cor esverdeada ou pela presença de
brotos. A solanina se concentra abaixo da casca em proximidade dos brotos e das
partes verdes e pode ser detectada também por dar um sabor amargo às batatas.
A solanina é considerada perigosa por ser inibidora da
enzima acetilcolinesterase, que é um componente-chave do sistema nervoso e
causa desordens gastrointestinais e neurológicas. Os sintomas incluem náusea,
diarréia, vômito, dores de estômago, queimação da boca, arritmia do coração,
dor de cabeça e vertigem, entre outros.
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